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2022/24/05
Publicações Económicas

O efeito dominó, a médio e longo prazo, da guerra na Europa e as tendências dos sectores ao nível mundial: haverá sectores resilientes?

O efeito dominó, a médio e longo prazo, da guerra na Europa e as tendências dos sectores ao nível mundial: haverá sectores resilientes?

Embora vejamos disparidades de acordo com a posição das empresas na cadeia de abastecimento ou a sua localização geográfica, todos os 13 sectores estudados pela Coface continuarão a ser afetados pelo efeito dominó da guerra na Ucrânia, direta ou indiretamente, a médio e longo prazo. Espera-se que a maioria dos sectores seja afetada por um contexto de elevados preços das matérias-primas e pelas questões de abastecimento agravadas pela guerra. Nomeadamente o caso dos preços elevados do petróleo, que são suscetíveis de continuar a ser estimulados pelo efeito da proibição do petróleo russo, anunciada pela comissão da EU; bem como o preço dos cereais (sendo a Ucrânia, a Rússia e a Bielorrússia grandes produtores de cereais). Num contexto de contínuas perturbações no fornecimento de semicondutores, e ainda sob os efeitos colaterais da pandemia de COVID, como demonstrado pelo encerramento do porto de Xangai, quanto mais tempo durar a guerra, mais provável é que um choque de procura se materialize, tornando o ambiente mundial ainda mais adverso.

 

Por essa razão, espera-se que os sectores mais afetados sejam os mais cíclicos e com maior consumo energético, tais como petroquímico3, transportes, automóvel, papel, têxtil/vestuário e agroalimentar. Olhando para o futuro, esperamos que os mais resilientes sejam os media (segmento das TIC), o segmento de substâncias químicas especializadas e os produtos farmacêuticos.

 

As tensões inflacionistas e o choque energético terão sobretudo impacto nos sectores cíclicos intensivos e na energia, com disparidades significativas entre as regiões 

 

Todos os sectores industriais estão preocupados, mas aqueles que são cíclicos e com maiores gastos de energia, tais como, o petroquímico, transportes, papel, e têxtil/vestuário estão entre os mais afetados. São sectores tipicamente cíclicos, que têm sido confrontados há vários anos por inovações tecnológicas, pela evolução das regulamentações ambientais e pela evolução das preferências dos consumidores. Por exemplo, o sector do papel enfrenta os desafios da contínua digitalização global da economia e da utilização social.

 

Os sectores que estavam em dificuldades antes da crise também são suscetíveis de serem fortemente afetados por este novo choque, olhando para o futuro. Os sectores têxtil/vestuário e automóvel a nível mundial, são uma boa ilustração deste fenómeno.

 

A longo prazo, resta saber até que ponto o sector retalhista será afetado. Este novo contexto de guerra está a suscitar incertezas que, provavelmente, continuarão a dificultar a confiança dos consumidores. Contudo, com a materialização de alguns mecanismos implementados por alguns governos, particularmente nas economias desenvolvidas, tais como senhas de alimentação para as populações mais vulneráveis ou subsídios aos preços da energia na Europa, o impacto no segmento retalhista poderá ser relativamente moderado. 

 

Embora o sector dos transportes, no geral, seja um sector de grande gaste energético e suscetível de ser atingido pelos elevados preços do petróleo, antecipamos disparidades no impacto do choque entre os diferentes subsectores, uma vez que estes enfrentam este novo choque com uma situação financeira diferente. Por exemplo, no primeiro trimestre de 2022, o lucro do transporte marítimo foi de 28% do seu volume de negócios, enquanto o transporte aéreo registou uma perda de 11% do seu volume de negócios.

 

Além disso, para a maioria dos sectores, prevemos que haverão grandes disparidades em termos de impacto e uma divisão entre indústrias/empresas na cadeia de abastecimento, dependendo se estão no início ou no final da cadeia. A dinâmica geográfica, a composição e a operacionalização dentro do mesmo sector têm também um papel a desempenhar quando analisamos o impacto da guerra.

 

O sector agroalimentar mundial é também suscetível de continuar a ser um dos mais afetados, com riscos de implicações sociopolíticas

 

Dada a dimensão vital do sector agroalimentar, as consequências dos desafios que enfrenta devido aos elevados preços dos alimentos e dos fatores de produção (particularmente dos fertilizantes) são cruciais, uma vez que podem ameaçar a segurança alimentar mundial, bem como desencadear instabilidade política. Os elevados preços da energia contribuem para aumentar os custos dos fatores de produção das culturas agrícolas, reduzindo assim o rendimento dos agricultores, sendo o sector agroalimentar já vulnerável a vários fatores estruturais, tais como riscos biológicos e a evolução das condições climáticas, materializados por exemplo, por um forte episódio de calor desde o início do ano em diferentes partes do mundo que causam secas (Corno de África, Índia, etc.) e incêndios em grande escala (como aconteceu no Novo México, nos EUA).

 

 

São esperadas transformações significativas no sector e evolução dos hábitos de consumo

 

A longo prazo, esperamos uma adaptação gradual dos hábitos, tanto dos consumidores como das empresas (poupança de energia, mudança da farinha de trigo para outras alternativas), bem como uma mudança na organização da cadeia de abastecimento. Esta última terá definitivamente um impacto nas cadeias de abastecimento mundiais. Por exemplo, as rotas cruciais de transporte ferroviário de mercadorias entre a Europa e a China estão agora a desenvolver-se fora da Rússia, através do corredor intermédio. Tal como o impacto da crise da COVID nas tendências dos sectores à escala mundial, este novo choque irá provavelmente atuar como um catalisador de transformações significativas, tanto na organização da cadeia de abastecimento como nos hábitos dos consumidores.

 

Alguns sectores manterão a sua resiliência

 

Os sectores contra cíclicos altamente inovadores, que requerem investigação e desenvolvimento de grande importância, continuarão a ser, mais uma vez, os mais resistentes ao choque.

 

Embora a crise sanitária relacionada com a pandemia de Covid se tenha, de certo modo, atenuado em muitas partes do mundo, não está definitivamente terminada. Por essa razão, o sector farmacêutico deve continuar a ter um bom desempenho financeiro dinâmico.

Entre os diferentes segmentos das TIC, a Coface espera que os meios de comunicação continuem a ser os mais fortes, uma vez que os investimentos e o equipamento necessários para utilizar esses serviços são anteriores à crise, pelo que os utilizadores não são afetados pelas perturbações da cadeia de abastecimento. Além disso, estes serviços continuam a ser necessários e podem ser utilizados remotamente. Assim, não são limitados por barreiras físicas e geográficas, ao contrário das atividades de transporte de mercadorias, por exemplo.

Espera-se que o subsector de substâncias químicas especializadas, particularmente as empresas que evoluem nos mercados de estética, fragrâncias ou aromas, sejam resilientes em comparação com outras indústrias do sector, tais como as ligadas às tintas e corantes, que são clientes do sector automóvel, muito cíclico, e da sua perspetiva pouco promissora.

 

Estas três indústrias (media, substâncias químicas e farmacêuticas) têm em comum uma combinação de vários fatores que incluem o facto de serem sectores contra cíclicos, dos quais os produtos e as posições dominantes no mercado estão concentrados em partes específicas do mundo. Além disso, existem atividades industriais inovadoras e de alta tecnologia, com fortes barreiras à entrada de novos intervenientes.

 

 

 

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