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2021/25/06
Risco País e Estudos Económicos

China: riscos crescentes de pagamento nos sectores da construção e da energia apesar de perspectivas económicas mais fortes

China: riscos crescentes de pagamento nos sectores da construção e da energia apesar de perspectivas económicas mais fortes

Globalmente, a economia chinesa registou um cresciomento de 2,3% em 2020, sendo a única grande economia a registar um crescimento recorde; a Coface espera que o PIB acelere para um aumento de 7,5% em 2021. Este seria o ritmo mais rápido desde 2013, e confortavelmente acima do mínimo de 6% estabelecido pelas autoridades.

 

Em tempos normais, um maior crescimento económico deveria traduzir-se em menos incidentes de atraso de pagamento, mas a recuperação tem sido irregular entre os sectores. Assim, o Estudo da Coface sobre os comportamentos de pagamento das empresas na China[1] efectuado este ano, mostra que os prazos de pagamento diminuíram em média 11 dias em 2020, caindo para 75 dias, enquanto que a distribuição das condições de empréstimos tendeu para prazos mais curtos, em vez de mais longos.

 

Finalmente, as empresas também beneficiaram de maiores medidas de apoio fiscal e monetário no ano passado, as quais deverão ser mais restritivas este ano. A Coface espera um aumento de incumprimentos e insolvências em 2021, especialmente entre os sectores que acumularam maiores riscos de tesouraria em 2020, num contexto de abrandamento do crescimento do crédito.

 

Bernard Aw, Economista da Coface para a região da Ásia- Pacífico, afirmou:

 

"O último estudo da Coface sobre os comportamentos de pagamento das empresas na China, mostrou que as empresas chinesas deram o passo necessário para reforçar a sua gestão de crédito em 2020 devido à pandemia de Covid-19. Os prazos de crédito foram reduzidos em muitos sectores, e mais ferramentas de gestão de crédito foram implementadas, incluindo a utilização de seguros de crédito e relatórios de crédito, juntamente com serviços de cobrança de dívidas e factoring. Como resultado, menos empresas sofreram atrasos de pagamento em 2020, em comparação com o ano anterior.

 

Embora o caminho da pandemia continue incerto e uma recuperação económica sustentada esteja longe de estar garantida, as empresas chinesas estão optimistas quanto às perspectivas económicas da China, com 73% dos inquiridos a esperarem que o crescimento melhore este ano, contra 44% em 2020. Isto coincidiu com o facto de mais empresas preverem um melhor desempenho nas vendas e uma melhoria dos fluxos de caixa este ano.

 

No entanto, o inquérito indicou que os riscos de crédito estão a acumular-se em sectores específicos, que merecem um acompanhamento atento nos próximos meses. A proporção de empresas dos sectores da construção e da energia que reportaram atrasos de pagamento ultra-longos (ULPD, mais de 180 dias), representando mais de 10% do volume de negócios anual, duplicou em 2020 para mais de 60%, o que sugere um aumento dos riscos de tesouraria. Este desenvolvimento sobrepôs-se ao aumento do incumprimento das obrigações na China continental, especialmente no sector da construção e imobiliário.

 

Olhando para o futuro, a Coface espera que os incumprimentos e as insolvências das empresas na China aumentem em 2021, especialmente entre os sectores que acumularam maiores riscos de tesouraria em 2020 devido à pandemia".

 

 

Atrasos nos pagamentos[2]: A maioria dos sectores registou atrasos mais curtos, excepto a construção

 

Menos empresas registaram atrasos de pagamento em 2020,com 57% dos inquiridos a reportar pagamentos em atraso, contra 66% em 2019. A queda nos atrasos de pagamento reflectiu uma forte resposta governamental para atenuar o impacto da pandemia na actividade empresarial, que incluiu benefícios fiscais, garantias de empréstimos e a renúncia aos juros de empréstimos.De acordo com o estudo da Coface, empresas em 11 dos 13 sectores reportaram uma redução nos atrasos de pagamento, apesar do contexto difícil. Entre elas, madeira, produtos farmacêuticos, transportes e TIC (tecnologias da informação e comunicação) reportaram as maiores reduções.Não houve alterações no comércio a retalho, enquanto a construção registou um aumento nos atraso de pagamentos.

 

As dificuldades financeiras dos clientes foram a principal razão para os atrasos de pagamento.A falta de recursos financeiros foi a segunda razão mais comum – a seguir à forte concorrência - sugerindo que existem nichos da economia que podem não ter tido acesso ao apoio governamental.

 

A retoma reforça o optimismo, mas os preços mais elevados continuam a ser as principais preocupações

 

Sendo a China a única grande economia a registar um crescimento do PIB em 2020, e dados económicos recentes apontam para uma expansão constante no primeiro trimestre de 2021, as empresas estão globalmente optimistas quanto às condições económicas, de acordo com o estudo. Mais de 70% dos inquiridos esperam que o crescimento melhore em 2021, contra 44% em 2020.

 

Este optimismo foi acompanhado por uma maior percentagem de empresas que prevêem vendas e fluxos de caixa mais elevados nos próximos 12 meses. Consequentemente, a maioria (62%) dos inquiridos espera que as suas empresas regressem aos níveis pré-COVID-19 em menos de um ano, enquanto perto de um quarto, estima este período entre um a dois anos.O aumento dos preçosfoi o impacto mais comum mencionado pelos inquiridos, onde quase dois terços afirmaram que a pandemia levou a um aumento dos preços das mercadorias, uma vez que as medidas de saúde pública dos governos perturbaram as cadeias globais de abastecimento.

Apesar da pandemia, 47% dos inquiridos admitiram não utilizar qualquer ferramenta de gestão de crédito para mitigar os riscos de tesouraria em 2020, após 40% em 2019. Ao mesmo tempo, uma proporção maior implementou mais do que uma ferramenta de gestão de crédito. A percentagem de empresas que utilizavam seguros de crédito aumentou de 17% em 2019 para 27% em 2020, enquanto que as que utilizavam relatórios de crédito estavam a 31% em 2020, o que representa um aumento significativo de 19%. Tanto o factoring como a cobrança de dívidas também registaram um aumento em relação ao ano anterior, atingindo 10% e 13%, respectivamente.

 

Incumprimentos e insolvências deverão aumentar em 2021

 

À primeira vista, os resultados do nosso estudo podem não parecer ilustrar a ligação entre os riscos de tesouraria e os incumprimentos das empresas,mas uma fragmentação sectorial revela um reforço dessa ligação. A tendência no incumprimento das empresas na China tem vindo a aumentar desde o primeiro caso em 2014, passando de menos de mil milhões de USD em 2015 para um recorde de 27 mil milhões de USD em 2020, de acordo com dados recolhidos pela Bloomberg. Nos primeiros quatro meses de 2021, os incumprimentos aumentaram em mais de 70% para 18 mil milhões de USD, na sua maioria no sector imobiliário, aviação e electrónica. O nosso estudo sugere que muitos destes sectores também apresentavam elevados riscos de tesouraria, com 67% dos inquiridos na construção civil a reportarem mais de 10% do volume de negócios anual vinculados a atrasos de pagamento ultra longos (ULPDs - Ultra Long Payment Delays), juntamente com 29% nas TIC e 19% nos transportes.

Analisando em perspetiva,a Coface espera que os incumprimentos e insolvências de obrigações de empresas aumentem em 2021, especialmente nos sectores que acumularam maiores riscos de tesouraria em 2020, tal como indicado no nosso inquérito 2021 sobre os comportamentos de pagamento das empresas na China de 2020. Estes são os sectores com a maior proporção de atrasos de pagamento ultra longos, que representam mais de 10% do volume de negócios anual, incluindo a construção (67%), a energia (62%) e o retalho (30%).

[1] Este Inquérito 2021 da Coface sobre os comportamentos de pagamento das empresas na China, foi realizado entre Fevereiro e Abril deste ano, tendo inquirido mais de 600 empresas de 13 sectores de grande dimensão localizadas na China Continental.

[2] Atraso de pagamento - o período entre a data de vencimento do pagamento e a data em que o pagamento é efectivamente efectuado.

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