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2021/08/11
Risco País e Estudos Económicos

Barómetro Q3 2021: As cadeias de abastecimento e as contrariedades da inflação dificultam a recuperação económica mundial

Barómetro Q3 2021: As cadeias de abastecimento e as contrariedades da inflação dificultam a recuperação económica mundial

Lisboa, 08 de novembro de 2021 - A recuperação económica continua, mais de 18 meses após o início da recessão mundial desencadeada pela pandemia da COVID-19. Esta evolução resulta em grande parte, do progresso na implementação dos processos de vacinação durante o Verão, em particular nas economias desenvolvidas. Por sua vez, esta situação está a estimular o aumento do consumo de serviços de elevado contacto,tais como a venda a retalho, o alojamento e lazer, etc. A situação permanece irregular nas economias emergentes: esta recuperação está a beneficiar os países orientados para a exportação, enquanto as economias dependentes dos serviços continuam a registar um atraso.

Apesar das previsões positivas, estão a surgir sinais de que a recuperação mundial está a perder dinamismo. Os surtos pandémicos nos pontos críticos da cadeia de abastecimento resultaram em ruturas de fornecimentos, alimentando a pressão sobre os preços. Estas ruturas começam a afetar a produção e as vendas dos produtores em todo o mundo. As adversidades provocadas pelas dificuldades no abastecimento, escassez de mão-de-obra e pela inflação, juntamente com a ameaça persistente da COVID-19, aumentam a lista de riscos e incertezas.

Perante uma recuperação consistente, a Coface melhorou a sua avaliação de risco para 26 países, incluindo a Alemanha, França, Itália, Espanha, Suíça e Bélgica. As grandes exportações de produtos manufaturados para mercados desenvolvidos, estão a provocar melhorias nas economias orientadas para a exportação na Europa Central e Oriental (Polónia, Hungria, República Checa), na Ásia (Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong) e na Turquia. Após a revisão em baixa de 78 avaliações de risco país no ano passado, estas melhorias vêm juntar-se às 16 já implementadas no 1º semestre de 2020, sendo acompanhadas por 30 atualizações de avaliações sectoriais.

Os progressos da vacinação ainda sustentam a recuperação

As tendências económicas mundiais destacadas no nosso último barómetro foram claramente confirmadas no terceiro trimestre. Os progressos da vacinação na Europa Ocidental e na América do Norte ajudaram a evitar novas vagas de rigorosas restrições de circulação, e têm contribuído para o otimismo de que novos bloqueios, como os do ano passado, sejam evitados. Contudo, a ameaça da COVID não desapareceu: menores taxas de vacinação nos mercados emergentes - particularmente em países com baixos rendimentos - ainda representam o risco do aparecimento de variantes resistentes às vacinas atualmente disponíveis.

A nível mundial, o sector industrial recuperou rapidamente desde meados de 2020, impulsionado pelo aumento das despesas em bens de consumo. Devido à enorme procura por parte dos agregados familiares, os fortes fluxos comerciais continuam a ser um apoio fundamental para o crescimento económico, nomeadamente na região da Ásia-Pacífico. A procura de produtos eletrónicos e de matérias-primas está de facto a beneficiar vários mercados na região, tais como a Coreia do Sul e Taiwan. A situação económica de vários exportadores de mercadorias essenciais (Rússia, Ucrânia, África do Sul, Chile, Argélia, etc.) é também apoiada pelos preços mais elevados. Na CEE, a competitividade das exportações da região e a ampla integração nas cadeias de abastecimento europeias favorecem o crescimento das exportações.

Em termos de tendências sectoriais, o abrandamento e levantamento das restrições nos países onde as taxas de vacinação são mais elevadas, estão a contribuir para uma mudança das despesas domésticas para serviços de grande contacto, tais como a venda a retalho, o alojamento e lazer. A recuperação do sector do turismo continua a ser o maior desafio.

 

Os problemas na cadeia de abastecimento e a inflação colocam obstáculos à dinâmica da recuperação

No entanto, as adversidades estão a acumular-se, particularmente ao nível do lado da oferta. O elevado nível de poupança nos países de elevados rendimentos conduziu a um rápido aumento das despesas dos consumidores. Ao mesmo tempo, as interrupções pandémicas criaram ruturas na cadeia de abastecimento que estão a perturbar a atividade empresarial. A concorrência por mercadorias e matérias-primas é forte, dificultando a produção industrial a nível mundial e, em alguns casos, tendo um impacto nas vendas. Isto é particularmente verdade para a escassez de semicondutores, que está a ter um impacto na maior parte das indústrias, desde o sector automóvel até aos sectores das tecnologias de informação e comunicação, tanto nas economias desenvolvidas como nas emergentes.

Os preços das mercadorias, os custos das matérias-primas e as taxas de transporte dispararam desde o Verão de 2020. Muitos produtos bateram níveis recorde. Tal como tem acontecido com a energia – em particular à medida que os preços do gás na Europa e na Ásia subiram – aumentaram os preços dos metais, das madeiras e dos alimentos. O aumento global dos preços das mercadorias e das matérias-primas também se traduziu num aumento dos preços no consumidor. A taxa de inflação harmonizada na Zona Euro atingiu 3,4% em setembro, o nível mais elevado dos últimos 13 anos. Isto reflete-se num aumento da inflação observado na maior parte do mundo, principalmente nos EUA, onde a taxa de inflação tem permanecido no nível mais elevado em 13 anos, de 5,4% nos últimos 4 meses até setembro. Espera-se, para breve, um pico da inflação nas economias desenvolvidas, pelo que os riscos poderão aumentar.

O dilema da inflação pode ser agravado pelas anúncio da falta de mão-de-obra, uma vez que as empresas oferecem remunerações mais elevadas para preencher as vagas de emprego. Um aumento dos custos de mão-de-obra poderá significar uma maior pressão da inflação. Face a este risco, alguns bancos centrais - incluindo a Reserva Federal dos EUA e o Banco de Inglaterra - já anunciaram que o fim das políticas monetárias complacentes está a aproximar-se. Na Europa, enquanto o BCE acompanha de perto a dinâmica da inflação com preocupação, o agravamento continua a ser uma perspetiva mais distante. Nas economias emergentes, vários bancos centrais tiveram de aumentar as suas taxas diretivas de referência nos últimos meses, dadas as preocupações com o aumento da inflação.

A componente fiscal da equação continuará a ser favorável nas economias desenvolvidas. Na Europa Ocidental, enquanto muitos governos nacionais vão continuar a apoiar ainda mais a sua economia até ao final do ano, o fundo de resgate da UE (no valor de 750 mil milhões de euros) será pago lentamente. Nos EUA, os próximos passos da resposta fiscal são ainda incertos, uma vez que alguns elementos fundamentais da agenda económica do Presidente Joe Biden estão ainda a ser debatidos no Congresso.

 

A economia Chinesa está a atravessar um momento de agitação

Também de extrema importância para a economia mundial, a economia chinesa mostrou sinais de abrandamento na 2ª metade de 2021. No terceiro trimestre, o PIB aumentou 4,9% em relação ao ano passado, o ritmo mais lento desde o terceiro trimestre de 2020. Numa base trimestral, a atividade apenas consumiu (+0,2%). A Coface prevê que a economia da China cresça 7,5% este ano, esperando que o crescimento do PIB se mantenha baixo no último trimestre.

 

Diversos fatores estão por detrás da desaceleração da atividade económica chinesa: a restrição política no aumento do crédito, o abrandamento do consumo interno, e o racionamento de energia para as indústrias. Um outro facto está relacionado com os objetivos de redução do carbono na China, conduzindo à imposição de políticas que restringem a produção de aço, uma vez que o sector é responsável por cerca de 15% das emissões de carbono do país. Em resultado, o volume da produção mensal de aço tem vindo a diminuir de quase 100 milhões de toneladas em maio para 83,2 milhões em agosto, prevendo-se novos cortes na produção em 2021.

Considerando o papel desempenhado pela China no comércio internacional e nas cadeias de abastecimento regionais, um abrandamento económico representaria riscos significativos para a atividade económica na Ásia, mas também para outros mercados emergentes na América Latina, Médio Oriente e África.

 

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