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2015/07/10
Risco País e Estudos Económicos

Queda dos preços do petróleo: reacções nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG)

Queda dos preços do petróleo: reacções nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG)
  • O forte declínio nos preços do petróleo revela a importância da diversificação económica.
  • Países com menos reservas financeiras, tal como Bahrain e Omã, enfrentam problemas relacionados com o fraco desempenho a nível de crescimento.
  • A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são menos afectados pela queda dos preços do petróleo pelas estratégias utilizadas no comércio não petrolífero.
  • O consumo privado e os esforços do governo para apoiar o crescimento económico sustentável mantêm uma perspectiva positiva para os países do CCG.
  • Países do CCG deverão crescer cerca de 3,4% em 2015 e 3,7% em 2016.

Os países do CCG detêm actualmente 30% das reservas petrolíferas mundiais comprovadas, com a Arábia Saudita na liderança (15,7%), seguida do Kuwait (6%) e dos Emirados Árabes Unidos (EAU) (5,8%). Em conjunto, os países do CCG produziram 28,6 milhões de barris por dia em 2014, o equivalente a 32,3% da produção mundial. Embora a descida dos preços do petróleo afecte todos os países do CCG, nem todos são afectados da mesma forma. O declínio nos preços do petróleo afecta principalmente Omã e Bahrain, enquanto o reino da Arábia Saudita, os EAU, o Kuwait e o Qatar são menos afectados.

As economias mais resilientes beneficiam de fortes fundamentos macroeconómicos, tais como: uma maior diversificação, sólidas reservas financeiras e uma melhor integração no comércio mundial. As indústrias de manufactura e de serviços desenvolvidas nesses mercados representam uma menor dependência das receitas do petróleo.

 

Predomínio do petróleo no desempenho económico

A projecção de crescimento nos país do CCG foi de 3,4% em 2015 e estima-se 3,7% em 2016. Enquanto estas taxas são consideradas elevadas em comparação com outros mercados emergentes, estas mantêm-se abaixo da taxa média de crescimento da região de 5,8% entre 2000 e 2011. Este abrandamento deve-se ao declínio nos preços do petróleo, que caíram de aproximadamente 110 dólares por barril em meados de 2014, para cerca de 50 dólares em 2015. O aumento da despesa pública que está associado à queda dos preços do petróleo teve impacto na região do CCG, mas nem todos os mercados seguiram o mesmo padrão. Apesar das semelhanças nas estruturas económicas, os países diferem em termos de dimensão económica, população, níveis de diversificação e preços de equilíbrio fiscal.

 

Emirados Árabes Unidos (EAU): resistente à redução dos preços do petróleo

A economia dos EAU é uma das mais diversificadas entre os países do CCG, tornando-a resistente à queda dos preços do petróleo. As receitas provenientes dos hidrocarbonetos são responsáveis por 25% do PIB e 20% do total de receitas de exportação. O sector privado não-petrolífero apresenta um forte crescimento impulsionado pela procura interna e pelo turismo, especialmente no Dubai. Segundo os aeroportos do Dubai, no primeiro trimestre de 2015, o tráfego de passageiros no Aeroporto Internacional do Dubai disparou de 7% para 19,6 milhões, com a expectativa de que a afluência de turistas cresça ainda mais, em conformidade com a Dubai Expo 2020. A procura interna é alimentada por fortes vendas a retalho e pelo aumento da confiança. É esperado que as vendas a retalho no Dubai, que aumentaram cerca de 7% em 2014, aumentem mais, precisamente devido ao aumento do turismo. O mercado imobiliário do Dubai está em expansão através do investimento estrangeiro, bem como, da riqueza da vizinha Abu Dhabi. 

 

Macro indicadores dos EAU

     2014 2015f 2016f
PIB (%) 4.6% 4.0% 3.8%
Saldo de Conta Actual. (1) 12.1% 5.3% 7.2%
Saldo Orçamental(1) 4.4% -2.0% -1.9%
Dívida Pública (1) 12.1% 14.7% 15.1%

 

Arábia Saudita: aceleração no processo de diversificação

Enquanto 80% das receitas de exportação e cerca de 85% das receitas orçamentais vêm do sector petrolífero, o Reino está a acelerar o seu processo de diversificação. Os principais motores do crescimento económico são as grandes despesas públicas que incentiva o consumo privado e o sector da construção, que registou um crescimento de 6,7% em 2014.

Está previsto que a indústria cresça em 2015 enquanto o governo planeia investir em projectos tais como a infra-estrutura dos transportes, a energia, o saneamento e o alojamento. No início de 2015, a Autoridade Geral de Investimentos da Arábia Saudita anunciou o Plano de Investimento Unificado do Reino, que consiste em quatro abordagens sectoriais específicas, no sentido de aumentar o investimento. Estas incluem a integração do sector energético, aumentando a produtividade na construção, no turismo, nos sectores imobiliário e de retalho, impulsionando o desenvolvimento do sector mineiro e dos transportes e mais investimento na educação para melhorar a competitividade no Reino. Existem 40 oportunidades de investimento promissoras no sector dos cuidados de saúde no valor de 71 mil milhões de dólares, incluindo o fabrico de equipamento e hardware médico, medicamentos, vacinas, bem como a criação e gestão de hospitais. Existem também 36 projectos atractivos de investimento no sector dos transportes em fase de preparação, que incluem o fabrico de autocarros, carruagens de comboio e peças sobressalentes, bem como o fornecimento de serviços de apoio técnico e tecnológico para a criação e o desenvolvimento de infra-estruturas. O governo procura também apoiar os gastos do consumidor oferecendo dois meses de salário bónus a funcionários públicos e subsídios no valor de 5.3 mil milhões de dólares para a electricidade, a água e o alojamento. Este investimento estimula o consumo, especialmente em vendas a retalho e, compensa parcialmente o impacto negativo da diminuição dos preços do petróleo sobre os vencimentos. 

 

 

Macro indicadores da Arábia Saudita

  2014 2015f 2016f
GDP (%) 3.5% 2.5% 3.0%
Current acc. bal. (1) 14.1% -1.0% 3.7%
Budget balance (1) -2.3% -15.0% -9.0%
Government debt (1) 1.6% 1.8% 1.7%

Fonte: Estatísticas oficiais, FMI, BMI, Coface

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Diversificação e integração global

As economias dos CCG permanecem dependentes do petróleo para obtenção de receita e das exportações. No entanto, os governos locais estão a tentar substituir este modelo de crescimento através de normas de diversificação económica que visam reduzir a sua dependência sobre o sector petrolífero. As receitas do sector dos hidrocarbonetos têm sido utilizadas para aumentar o crescimento nas indústrias dos não-hidrocarbonetos sob a forma de subsídios e de despesa pública. A Arábia Saudita, os EAU e o Qatar têm sido mais bem-sucedidos na diversificação das suas economias em comparação com os seus vizinhos do CCG.

 

GCC exports, share by region, 2013

 

Muitos países do CCG estão em processo de implementação de planos económicos a longo prazo – Estratégia da Arábia Saudita para 2025, Omã – Perspectiva para 2020, os EAU – Perspectiva para 2021, Bahrain – Perspectiva para 2030 e Perspectiva Nacional Qatar 2030.

Em consequência, a percentagem do sector não-petrolífero no total real do PIB está a aumentar – e aumentou de 12% para 70% nos países do CCG entre 2000 e 2013.

As autoridades locais introduziram medidas para promover o comércio e atrair mais investimento directo estrangeiro para facilitar o crescimento económico. Todos os países do CCG são economias abertas com relações comerciais próximas com o resto do mundo. De acordo com o Instituto de Finanças Internacionais, as exportações totais da região ascenderam a mais de 60% do seu PIB em 2014. Os principais parceiros de exportação da região são: a Ásia, o Ocidente, o Médio Oriente e o Norte de África e, a Turquia.

 

Resistência económica nos EAU e na Arábia Saudita em sectores específicos 

A Coface avalia que o sector alimentar e de bebidas nos EAU irá beneficiar do elevado rendimento existente no mercado interno, do sólido consumo privado, de uma grande população de expatriados com exigências crescentes, forte crescimento económico e da posição do país como porto seguro. Os EAU têm investido na indústria de processamento alimentar; um total de 1,4 mil milhões de dólares desde 1994, especialmente na indústria de lacticínios. O segmento alimentar Halal está também em expansão e está previsto crescer para 1,6 biliões em 2018, impulsionado pela forte procura do consumidor por alternativas alimentares variadas e naturais.

 

UAE food & beverage sector, billions USD

Na Arábia Saudita, o sector mais promissor é o sector automóvel. Vários fabricantes de equipamento original estabeleceram entidades locais no país. O Fundo de Investimento Público (FIP) da Arábia Saudita está a investir 1 milhão de dólares numa fábrica de automóveis com uma capacidade de produção de 150,000 veículos por ano, a partir de 2018. Espera-se um crescimento de 3,6% do sector automóvel em 2015, devido ao aumento dos rendimentos disponíveis, à demografia favorável e a taxas de urbanização mais elevadas.

 

“Como o petróleo continua a ser um grande contributo para o desempenho económico no CCG, a diversificação económica é vital para que os países do Golfo garantam um crescimento contínuo e saudável. Isto tem sido apresentado na Arábia Saudita e nos EAU, que está a impulsionar o crescimento do PIB sustentado através de investimento público significativo em sectores não-petrolíferos. Nos EAU, prevê-se um crescimento de 36% entre 2014 e 2019 no sector alimentar e de bebidas, enquanto a indústria automóvel no Reino da Arábia Saudita está prevista aumentar cerca de 5,2% em 2015.

Tendo em conta estes números de crescimento, a Arábia Saudita e os EAU estão a dar um exemplo positivo de diversificação económica, como forma compensar o impacto da descida dos preços do petróleo,” afirmou Seltem Iyigun, Economista da Região MENA, Coface.

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Alina BORDALO

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