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2017/28/12
Risco País e Estudos Económicos

Os interesses da China na África Subsariana: são necessários esforços para reequilibrar as relações bilaterais

Os interesses da China na África Subsariana: são necessários esforços para reequilibrar as relações bilaterais
Uma dependência comercial arriscada para os sectores e países que exportam matérias primas.

 

Quase 20 anos após a abertura do primeiro Fórum para a Cooperação entre a China e África, as relações entre China e África continuam desiquilibradas. O comércio bilateral aumentou na última década, (um total de 123 mil milhões de dólares em 2016), impulsionado, até 2014, pelas exportações, que cairam cerca de 51% desde o seu nível máximo. Agora, a região tem um défice comercial com a China. Enquanto as exportações se concentram principalmente nos recursos naturais (representam 90% das exportações para a China), as importações são mais diversificadas e incluem produtos industriais, transporte e maquinaria (51% do total) à frente dos minerais e metais preciosos. Este desiquilíbrio comercial reforça o risco da temida “doença holandesa” que, em economia, associa a queda do sector industrial local com o aumento da exploração das matérias primas.

 

A desaceleração da economia chinesa e a reorientação dos seus modelos de crescimento para o consumo privado, reflectem-se numa procura cada vez menor das matérias-primas procedentes de África. Isto terá consequências inevitáveis para os exportadores. De acordo com os cálculos efectuados pelos economistas da Coface, a África Subsariana, em 2016, apresentava um coeficiente de dependência das exportações de 0,24 (numa escala de 0 a 1), significativamente mais elevado que outros países emergentes, como o sudoeste asiático com 0,16 (um dos maiores sócios comerciais da China), e a Rússia, Brasil e Índia com 0,16. O diferencial é inclusive maior com a União Europeia (0,07) e os Estados Unidos da América (0,12).

 

Como era de esperar, os países que beneficiaram mais da expansão da China, e aqueles com uma economia menos diversificada, são os que provavelmente sentem de forma mais directa os efeitos de uma menor procura. A maior depedência comercial está concentrada principalmente em redor das exportações de petróleo e, de acordo com o índice estabelecido pela Coface, o Sul do Sudão ocupa o primeiro lugar do rankimg, desde que declarou a sua independência em 2011, seguido por Angola e o Congo. A Gâmbia,  que produz madeira, não fica muito atrás. A Eritreia, a Guiné e a Mauritânia encontram-se também entre os países mais dependentes devido às suas exportações de minerais metálicos (ferro, cobre e alumínio).

 

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Diversificação, o lema de uma relação sustentável de benefício mútuo

Apesar desta forte dependência das exportações para a China, a relação entre a China e África poderia converter-se numa cooperação de benefício mútuo. As exportações africanas estão gradualmente a diversificar-se, incluindo matérias-primas processadas com valor acrescentado superior, madeira em bruto e, em menor dimensão, alguns produtos agrícolas (tabaco, cítricos, sementes e oleaginosas), que satisfazem as necessidades da classe média emergente da China. Inclusive, se esta mudança mantém a vulnerabilidade dos países produtores de matérias-primas à evolução dos preços internacionais, esta situação poderá aumentar as receitas locais, fomentar o emprego e as transferências de tecnologia.

 

A diversificação também está relacionada com os fluxos de investimento directo estrangeiro e os empréstimos procedentes da China. Os investimentos chineses em África já não são de natureza extractiva e actualmente já abrangem também os serviços, as indústrias de processamento, os transportes e os serviços públicos. As iniciativas existentes, como por exemplo a “One Belt, One Road”, em última instância, deveriam impulsionar a conectividade regional e reduziriam os custos de exportação.   Não obstante, dado que os fluxos em investimento directo estrangeiro e financeiros são muito menores do que os fluxos comerciais, os países africanos estão altamente dependentes da China e continuam a ser muito vulneráveis ao enfraquecimento da procura ou a uma maior diminuição dos preços das matérias-primas. Para além disso, o risco dos governos africanos poderia aumentar a sua vulnerabilidade face às mudanças na política externa da China e à diversidade da procura, devido ao facto dos interesses da China na região se basearem, em primeiro lugar, numa rede complexa de objectivos políticos e económicos.

 

“Os últimos acontecimentos parecem estar a avançar na direcção correcta, porém,  são necessários esforços para passar de um casamento por conveniência desequilibrado para uma relação baseada no benefício mútuo”, comenta Ruben Nizard, economista da Coface responsável pela África Subsariana e co-autor do estudo, “China-África: até quando durará o casamento por conveniência?”.

 

 

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