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2023/21/04
Risco País e Estudos Económicos

DESAFIOS DO SECTOR AGROALIMENTAR EM 2023

DESAFIOS DO SECTOR AGROALIMENTAR EM 2023

Embora o acordo relativo ao trânsito de cereais no Mar Negro, primeiro negociado entre a Ucrânia e a Rússia sob a égide da Turquia, posteriormente renovado em março, tenha contribuído para aliviar a pressão sobre o fornecimento de cereais, os seus efeitos são limitados e persistem zonas cinzentas na segurança alimentar de muitos países. A prorrogação deste acordo proporciona alívio temporário ao mercado, mas a Coface acredita que as graves tensões de abastecimento que surgiram com o início da guerra na Ucrânia persistirão ao longo de 2023.

 

A renovação do acordo sobre o transporte de cereais no Mar Negro resolve apenas parte dos problemas do sector agroalimentar relacionados com a guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia causou perturbações duradouras nos fluxos marítimos essenciais ao trânsito de trigo no Mar Negro. Os fluxos que atravessam o estreito do Bósforo são cerca de 50% mais baixos do que antes da guerra, enquanto a Rússia e a Ucrânia representam 25% das exportações globais de trigo. A redução da disponibilidade de cereais tem um forte impacto em certos países altamente dependentes das importações, especialmente na África Ocidental, Ásia Central, e Sudeste Asiático. Os recursos agrícolas são assim uma alavanca para a Rússia exercer pressão sobre os países ocidentais, através da empatia da opinião pública, sensível ao risco crescente para a segurança alimentar nos países em desenvolvimento.

 

Para além das dificuldades ligadas aos carregamentos, a destruição de terras aráveis, infraestruturas e equipamento na Ucrânia é problemática. De acordo com a Associação Ucraniana de Cereais (UGA), as áreas de cultivo foram reduzidas em 25% em 2022, em comparação com 2021, e as previsões para 2023 são ainda mais pessimistas. A contaminação da terra devido aos bombardeamentos ameaça as culturas futuras, e muitas fábricas de químicos ou instalações de armazenamento essenciais à produção agrícola foram destruídas. O Programa das Nações Unidas para o Ambiente estima que 618 instalações industriais ou infraestruturas críticas foram destruídas na Ucrânia desde o início da guerra.

 

A extensão de 60 dias do acordo sobre o corredor de transporte de cereais do Mar Negro é uma lufada de ar fresco para os mercados, mas não resolve os problemas de abastecimento a longo prazo. O índice de preços dos alimentos da FAO, que atingiu o seu valor mais alto desde 2011 em maio de 2022, estabilizou a um nível elevado.

 

Segundo a Coface, 2023 continuará a ser um ano de forte tensão entre a oferta e a procura

 

Com uma prorrogação do acordo do Mar Negro por apenas 2 meses, o risco de ruturas de abastecimento para certos países ainda está presente. Além disso, embora seja provável que a procura esteja sujeita a uma forte estagnação, espera-se que a produção mundial de cereais desça 2% para a época de 2022/23.

 

A persistência de dificuldades de abastecimento e os preços de mercado elevados podem também reforçar os reflexos protecionistas sobre os produtos alimentares. Alguns países podem ser tentados a reintroduzir medidas protecionistas semelhantes às que entraram em vigor em 2022 (Egipto, Índia) para lidar com as pressões inflacionistas ou a escassez de alimentos.

 

 

Finalmente, a contração da produção global de cereais deverá acentuar a concentração de stocks em alguns países. Nos últimos anos, a China tem aumentado constantemente as suas reservas de trigo, e detém atualmente mais de 50% das reservas mundiais de trigo. Em contrapartida, os países exportadores de cereais constituem cada vez menos stocks (7,3% dos stocks em 2022, em comparação com 11,3% em 2010). Esta maior concentração será necessariamente em detrimento da fluidez do comércio internacional de cereais, especialmente num mercado sob pressão.

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